A Grande Depressão

O crash bolsista ou a Quinta-Feira Negra

 O crash de 1929 foi uma crise típica do capitalismo, do género das que afetaram os EUA, ciclicamente, desde 1810. Porém, a crise bolsista de 1929 foi tão grave que fez repensar os próprios fundamentos da livre-concorrência. Depois de uma fase de alta na economia (entre 1925 e 1929), que tomou o nome de loucos anos 20, relacionada com a dependência dos capitais e dos empréstimos americanos no pós-guerra e com a aplicação do taylorismo, seguiu-se uma tendência depressionária.

A crise teve origem em dois fatores: por um lado, na superprodução de bens de consumo; por outro, na especulação bolsista – as cotações das ações da Bolsa, cada vez mais altas, não correspondiam à situação real das empresas. A facilidade de recurso ao crédito mantinha os cidadãos na ilusão da prosperidade.

FONTE: «Na famosa quinta-feira negra, 24 de outubro de 1929, os títulos postos à venda [na Bolsa de Nova Iorque, em Wall Street] não encontram compradores (…): cerca de 70 milhões de títulos são lançados no mercado sem contrapartida. É a derrocada das cotações: a perda total é avaliada em 18 mil milhões de dólares. O fenómeno repete-se nos dias seguintes, amplia-se por um processo cumulativo que abala a confiança, mola real do crédito na economia liberal. (…) Esta crise de crédito revela a sobreavaliação dos valores (…). A crise sanciona, pois, uma especulação excessiva, uma inflação do crédito. Para os especialistas, trata-se de um acidente técnico que saneará o mercado e permitirá o regresso à ordem (…). Todavia, contrariamente à expectativa geral dos técnicos, do presidente [dos Estados Unidos, Hoover] e dos eleitores que nele tinham votado, a crise instala-se, perdura e atinge outros setores da economia americana e também outros países. (…) É como uma paragem cardíaca.»  

René Rémond, Introdução à História do Nosso Tempo, Lisboa, Gradiva, 1994

A dimensão financeira, económica e social da crise

O crash de 1929 não teve apenas efeitos sobre os acionistas, mas também se repercutiu sobre todos os setores da economia: os bancos, sem hipótese de reaverem o crédito concedido, foram à falência; as empresas, sem o apoio do crédito bancário e com os stocks a acumularem, diminuíram os preços e o volume da produção; muitas empresas faliram e despediram os seus trabalhadores; os cidadãos, desempregados retraíram as suas compras; por falta de consumidores e excesso de produção, os agricultores baixaram os preços ou destruíram as produções.

Em termos sociais, a crise teve efeitos desastrosos: as populações, arruinadas, percorriam extensões inimagináveis em busca de emprego; construíam-se bairros de lata, faziam-se longas filas de espera para uma sopa. Em suma, a gravidade da crise evidenciou a falência do liberalismo puro, exigindo medidas de intervenção do Estado na economia.

 

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